O Museu Casa da Hera e seu patrimônio são testemunhos da riqueza gerada pelo café no século XIX e constituem uma importante referência histórico-cultural não só de Vassouras, mas de todo o Brasil. Saiba mais sobre essa história.
A Casa– Podemos situar a construção da Casa na primeira metade do século XIX, pois o primeiro registro que se tem dela é de 1836, em uma planta baixa da cidade de Vassouras. Sua estrutura é composta por 22 cômodos distribuídos em área comercial, social, íntima e de serviço. Além de mobiliário, porcelanas, prataria, quadros e objetos de uso pessoal e doméstico, o acervo possui uma biblioteca com cerca de mil volumes e três mil periódicos. Destacam-se também o piano francês Henri Herz, do século XIX, um dos únicos exemplares em funcionamento no mundo, e a coleção de indumentárias assinada por mestres da alta costura internacional, como Charles Worth.
Sala Comercial– Nesse local, os comerciantes, fazendeiros, políticos e demais envolvidos com o universo do café eram recebidos pelo dono da casa para tratarem de negócios. Era uma importante área da casa, já que Joaquim José Teixeira Leite, como um dos mais destacados comissários de café da região no século XIX, tinha importantes contatos comerciais.
A área é composta pela Sala Comercial, Alcovas(quarto sem janela, no interior da casa) e Escritório deTrabalho. Nas alcovas eram geralmente hospedados, por ocasião de suas viagens, algumas pessoas que possuíam ligações estritamente comerciais com os donos da casa, e que, no entanto, não tinham acesso ao restante da casa.
A área íntima– O acesso ao universo íntimo da casa era restrito aos familiares, com exceções para poucos amigos, o que tornava a entrada nessa área um privilégio. As casas do século XIX costumavam ser pensadas não pelo olhar do morador, mas do visitante. Por isso, as áreas com decoração mais exuberante eram as sociais, já que aqueles eram os únicos cômodos a que as visitas teriam acesso. Esse hábito explica a simplicidade dos quartos, visto que precisavam conter apenas o essencial para o cotidiano de seu dono.
Através de um extenso corredor, podemos ver um Quarto conjugado com Quarto de Vestir (ou Quarto de Banhar); um Quarto menor, e uma Biblioteca, que abriga obras raras da literatura nacional e internacional. A documentação não permite definir com exatidão a quem pertencia cada um dos quartos. Supõe-se que o primeiro deles, por ser maior, teria sido o quarto do casal. O segundo, pela proximidade do quarto dos pais, teria pertencido às filhas, Eufrásia e Francisca Bernardina.
Sala de Jantar– Local onde eram realizadas as refeições de caráter social. Aqui a família recebia seus convidados para jantares e confraternizações. A Sala tem uma particularidade: ela se encontra depois da área íntima, algo muito incomum para os padrões de moradia da época.
A mesa é elástica, ou seja, tem um aparato que permite aumentar ou reduzir seu tamanho, possibilitando acomodar até 16 lugares. No cômodo também vemos a cristaleira que, hoje, abriga a louça da família. Sobre a mesa, encontra-se um jogo de jantar de porcelana com filetes em ouro, provavelmente feito por ocasião do casamento dos donos da casa. Destacamos a presença do monograma “JJTL” (Joaquim José Teixeira Leite), hábito comum no século XIX. Os talheres que compõem a mesa pertenceram ao Barão de Campo Belo e também trazem seu monograma, “LCC” (Laureano Corrêa e Castro). Laureano era pai de Ana Esméria, mas o conjunto não é original da casa. Foi adquirido recentemente através de leilão.
Ao lado da mesa temos um Conjunto Thonet, mobiliário de autoria de Michael Thonet, marceneiro alemão, cujos filhos criaram a empresa Gebrüder Thonet, em Viena, o que justifica o estilo ser conhecido como estilo austríaco. Era nesse local em que as mulheres se reuniam após as refeições para tomar café e para falar sobre a vida, muitas vezes, alheia.
Área de Serviço– A copa e a cozinha são áreas de serviço destinadas aos afazeres domésticos diários. Do mobiliário original da casa existem o armário embutido e a mesa de madeira da copa. Em exposição na copa, há a cristaleira, modelo Chippendale, doação do Sr. Floriano Reis Neto (descendente do Barão Piabanha). As peças de cristal em seu interior e as louças do outro expositor foram doados pela Sra. Iacy Martins Corrêa e Castro.
A Cozinha- talvez tenha sido o cômodo da Casa que mais se modificou ao longo dos anos. O fogão original, embutido e à lenha, funcionava sem interrupção, transformando o espaço em um local quente e repleto de fuligem.
O fogão que atualmente está no cômodo foi adquirido da Fazenda de São Fidelis (do Barão de Santa Justa), assim como o pilão e as panelas de ferro com pegadores, doados pelo Sr. Gerson Ribas Tambasco. Além das louças e dos objetos pequenos, que são originários da Casa da Hera, destacamos o filtro de pedra vulcânica, a máquina de costura manual e um moedor, todos doados pela Sra. Nelli Napoli Veneziani.
Área Social- Essa área é composta por dois salões. Tanto o Salão Amarelo, quanto o Salão Vermelho, apresentam uma decoração neo-rococó típica do gosto francês do século XIX. Destacam-se o mobiliário no estilo Luís Felipe, os espelhos e lustres de cristal.
No Salão Amarelo aconteciam os bailes e os famosos saraus do século XIX, sempre acompanhados de música. Nessa área, a família recebia convidados para os grandes festejos.
“Diga a Chiquinha que não he só no Botafogo que se diverte a gente: as moças aqui tem se regalado de saraus”. (Joaquim José Teixeira Leite, 1865)
A suntuosidade e luxo do local são expressões do gosto e do poder econômico dos donos da casa. Além disso, o esmero na decoração e o fato de haver na casa alguns cômodos destinados aos bailes e recepções indicam que o hábito de receber convidados era valorizado por aquela sociedade, pois ser um bom anfitrião era uma forma de elevar o prestígio social.
A Chácara- Localizada no centro urbano de Vassouras, o terreno ao redor do Casa da Hera possui 33 mil m². A vegetação exuberante da Chácara, repleta de plantas nativas da região e árvores frutíferas, torna o passeio pela área verde um dos pontos principais da visita ao Museu. Além da agradável caminhada pelo terreno, uma das atividades mais apreciadas pelos visitantes é percorrer o extenso túnel de bambus, também chamado de “túnel do amor”. Atualmente, a caminhada ecológica pela Chácara é parte integrante do circuito de visitação ao Museu.
Um jardim histórico é uma composição arquitetônica com elementos naturais, um monumento histórico e artístico, cujo material é, sobretudo, vegetal, vivo e, por isso, perecível e renovável. A área do jardim é organizada intencionalmente para o proveito, a amenização, o deleite, a educação, a recreação, o encontro e a contemplação daqueles que o frequentam. Os jardins da Casa da Hera são tombados e, por esse motivo, constituem-se como um patrimônio que deve ser valorizado, protegido e preservado.
Hera
Originalmente, a Casa não possuía hera. Ela foi plantada somente em 1887 por Manuel da Silva Rebello, o caseiro que ficou responsável pela casa após a partida de Eufrásia e sua irmã para a Europa. Será que ele imaginava que seu ato marcaria de maneira tão profunda esta casa a ponto de ficar conhecida como a “Casa da Hera”?
Jabuticabas
Desde o século XIX, a Chácara da Hera esteve sempre repleta de árvores frutíferas. A jabuticaba tornou-se uma das frutas mais abundantes e a parte da Chácara em que a planta é encontrada em maior profusão ficou conhecida como “Caminho das Jabuticabeiras”.
Vassourinha
Encontrada em abundância na região durante o período das primeiras ocupações, ainda no século XVIII. Era tradicionalmente usada pelos viajantes para a fabricação de vassouras. Foi graças à esta planta que a cidade recebeu o nome que se mantém até hoje.
Palmeira Imperial
No Brasil o primeiro exemplar de Roystonea oleracea foi plantada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro pelo príncipe regente D. João VI, em 1809. A partir de então, esta espécie de palmeira foi associada ao poder monárquico.
Bonecões
Os bonecos expostos em vários pontos da Chácara foram produzidos durante as Oficinas de Bonecões Zé Pereira, ocorridas em diversos momentos entre 2011 e 2013. A atividade foi desenvolvida pela arte educadora Tiza Vidal e seus alunos e contou com o apoio da Prefeitura Municipal de Vassouras. Os bonecos representam Eufrásia e Dr. Joaquim os últimos donos da Casa da Hera. Também são homenageados o antigo caseiro, Manoel da Silva Rebello, e o mitológico burrinho Pimpão, que teria recebido toda a fortuna de Eufrásia após seu falecimento.
Sede do Ecoclube Manoel da Silva Rebello
Um ponto de grande destaque da Chácara é a Sede do Ecoclube, onde o visitante pode encontrar diversos canteiros, cultivados de acordo com a permacultura, além de composteira, minhocário e berçário de plantas.
Horta Mandala
No jardim, a horta mandala é composta de canteiros concêntricos que respeitam a agricultura ecológica. O princípio é a inspiração nas formas orgânicas da natureza, seguindo os princípios da permacultura. A horta mandala economiza água, trabalha com a diversidade de plantas, aproveita melhor o espaço, e ainda, poupa o solo usando apenas fertilizantes orgânicos. O termo Mandala vem do sânscrito que significa círculo. Simbolicamente representa a temporalidade, a finitude e mudança e, ao mesmo tempo, a eternidade. É uma representação geométrica da dinâmica relação entre o homem e o cosmos.
Espiral de ervas
A forma de espiral deste canteiro é fruto da tentativa de reprodução de uma das formas que encontramos nos ambientes naturais. Ao imitar esses padrões, estamos proporcionando harmonia e integração entre o homem e a natureza. A forma em espiral consegue otimizar a produção e a distribuição de energia e de espaço, pois sua estrutura propicia a criação de diversos microclimas em um espaço pequeno e, com isso, permite cultivar plantas que possuem diferentes necessidades de luz, água e nutrientes.
Minhocário
Seguindo as orientações da agricultura ecológica, as crianças do Ecoclube Manoel da Silva Rebello auxiliaram na construção deste minhocário. Os minhocários são uma maneira simples sustentável de conseguir boa terra para os canteiros da horta, uma vez que as minhocas concentradas nesse espaço produzem um húmus muito fértil e ideal para adubar as plantas cultivadas, já que possuem muitos nutrientes. Você sabia que as minhocas têm cinco corações e respiram através da pele?
Roda d’água
Esta peça era parte de uma estrutura chamada moinho d’água. Um moinho de água permite moer grãos, irrigar áreas cultiváveis ou drenar terrenos alagados a partir da força da água. Há centenas de anos o movimento da água é usado nos moinhos. A passagem da água por esta roda fazia mover pequenas engrenagens de ferro ligadas a uma mó (pedra redonda muito pesada), que moía o cereal – trigo, milho, cevada, aveia, etc. – transformando-o em farinha.
TelhasAs telhas menores em exposição são do tipo capa e canal, o mesmo que se encontra no telhado da casa, e as maiores são calhas. Nesse tipo de cobertura, uma telha é encaixada sobre a outra de maneira que, a de baixo, funcione como um tipo de canal por onde passa a água. As telhas de cerâmica, de fabricação semi-artesanal, como essas, eram as mais comumente usadas nas construções do século XIX na região.
Buraco dos Escravos
Local onde ocorrem diversas apresentações culturais. Ali estão os bonecos de Manoel Congo e Mariana Crioula. Em 1838, motivada, inicialmente, pela revolta contra a morte de um escravo, houve uma fuga em massa que teria contado com a adesão de cerca de 300 a 400 negros de diversas fazendas da região de Paty do Alferes-RJ. Manuel Congo foi o principal líder dessa fuga. Ele e sua companheira, Mariana Crioula, são importantes símbolos da resistência dos negros contra a escravidão, pois esta foi a maior rebelião de escravos já ocorrida na região do Vale do Café. Os bonecos são uma homenagem, não só a esses dois personagens, mas a todos os escravos que ajudaram a construir nossa história.
Túnel de Bambus
O túnel de bambus da Chácara da Hera é um dos principais cartões postais do local. Ele possui, aproximadamente, 300 metros de extensão e faz parte dos jardins históricos do Museu, pois já estavam constituídos nessa área desde o século XIX. Aqui nasce um córrego de água salobra que é um dos formadores do ribeirão de Vassouras. O bambuzal entrou para cultura popular como “túnel do amor” por ter sido um local muito freqüentado pelos casais apaixonados.
Fonte: museucasadahera.museus.gov.br