Os caríssimos cafés que nascem do cocô

Seja sincero. Você degustaria um café cujos grãos foram recolhidos do cocô de um mamífero em risco de extinção chamado Civeta, que vive na Indonésia e lembra o herói Rocket Raccoon, dos Guardiões da Galáxia? Pois é. Isso existe, e é considerado, entre os aficcionados, Uma fina bebida que atende pelo nome de KopiLuwak, o café mais caro do mundo. Um pacote de um quilo da, digamos, iguaria sai pela besteira de R$ 14 mil – o equivalente a 700 pacotes de 500 gramas do Café Pilão, um dos mais vendidos no Brasil. Virou tendência nesse enigmático mercado de produtos de luxo.

Apesar do procedimento parecer muito pouco atrativo, não há resquício dos dejetos no produto. O animal se alimenta da polpa do café e as sementes passam intactas pelo seu sistema digestivo. Ao longo do “caminho” dos grãos por dentro do bichinho, enzimas e bactérias fermentam os frutos, o que, de acordo com quem conhece o assunto, dá um sabor frutado, pouco amargo e nada ácido. Mas sua produção não deixa de ser alvo de críticas de ativistas da causa da proteção animal. Uma iniciativa da ONG World Animal Protection pede o fim da criação de civetas em cativeiro para produção de café.

Os cafés exóticos parecem estar se consolidando como o último grito da moda entre os foodies. Na disputa pelo posto de mais caro do mundo, vem do norte da Tailândia o “Black Ivory” (Marfim Negro), que é recolhido entre as fezes de elefantes. Entretanto, para produzir apenas um quilo do café torrado são necessários cerca de 10 mil grãos, e a produção anual hoje é de aproximadamente 50 quilos. Devido à pouca disponibilidade, uma xícara do café de cocô de elefante custa em Londres cerca de R$ 100, e um quilo fica em torno dos R$ 5 mil. E o Brasil também resolveu surfar essa estranha onda.

Aqui nos trópicos, o animal responsável pelo serviço é o Jacu, uma ave de grande porte, presente em boa parte do território nacional e parecida com uma galinha, mas com penas de cor escura e que apresenta como característica marcante o papo vermelho. Durante muito tempo os jacus foram considerados uma praga, porque comiam grãos maduros de café e deixavam suas fezes no meio da lavoura. Até que, inspirados pela história do Kopi Luwak, alguns produtores começaram a revolver manualmente os excrementos da ave até encontrar grãos de café, que são higienizados e após um período de descanso, torrados e moídos para o consumo.

No Brasil, um quilo do Jacu Bird Coffee Bean pode ser encontrado nas melhores lojas da praça na faixa dos mil reais o quilo. Mas na Europa ele é tratado de uma maneira beeeem diferente. Desde 2015 a loja de luxo britânica Harrods compra o Jacu Bird Coffee Bean. Depois de exigir um certificado, emitido por autoridades brasileiras, confirmando que o pássaro não é confinado para produzir o grão diferenciado, o produto é vendido na tradicional loja inglesa por 1.400 libras o quilo. Algo em torno dos R$ 8.700. Como vovó já dizia, tem gosto para tudo.

Fonte: RioJá